Português fácil - Intertextualidade

Nesta semana um aluno que estuda para concursos há pouco tempo procurou-me com uma dúvida sobre intertextualidade. Ele não conhecia a definição desse “fenômeno” e por isso não respondeu à questão - nem a leu...

Vamos definir? A intertextualidade é um “diálogo” entre textos. Evidentemente, a intertextualidade está ligada a “conhecimento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. A intertextualidade pressupõe um universo cultural comum, amplo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos, além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função daquela citação ou alusão em questão.

Voltando à questão do aluno... o texto usado pelo IPAD foi um artigo de Sírio Possenti chamado PALAVRÕES. Publicado em 17 de dezembro de 2009 no Terra Magazine.

(...)

“Lendo qualquer texto que trate de tabus linguísticos (palavrões são os exemplos mais claros), descobrem-se dois aspectos aparentemente contraditórios de sua vida numa comunidade linguística. Primeiro: são controlados (e não propriamente proibidos), de forma que nem todos os falantes os empregam, ou os empregam impunemente. Digamos, para simplificar bastante, que são mais admissíveis para homens que para mulheres, e são mais admissíveis em lugares privados do que em público (estádios de futebol não valem como contraexemplo, está claro).


Mas nem só de palavrão vive o tabu . Outras palavras são consideradas perigosas, e são as evitadas de alguma forma: muita gente não diz nomes de doenças, por exemplo, ou não tem coragem de dizer “morrer” (diz “faltar”) nem “diabo” (no máximo, diz “diacho”, o que permite expressar uma carga emotiva e, ao, mesmo tempo, evitar que o Cujo apareça ou aja). Quem leu Grande Sartão: Veredas sabe o quanto Riobaldo evitava dizer o nome dele. De quebra, aprendeu um bom número de nomes “alternativos.”

O IPAD perguntou aos candidatos em que passagem do texto havia a realização explícita do processo da intertextualidade. Eu destaquei a expressão no texto: Mas nem só de palavrão vive o tabu. O escritor para agregar um aspecto a mais ao assunto “tabu linguístico” valeu-se da “paródia” ao texto bíblico “Não só de pão vive o homem”(Dt 8,3), de amplíssima divulgação. Só percebemos o processo intertextual porque conhecemos o intertexto (texto base - bíblico). Revejamos a definição citada na introdução: “A intertextualidade pressupõe um universo cultural comum, amplo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos , além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função daquela citação ou alusão em questão.”. Continuaremos a conversar sobre esse assunto no próximo domingo, até lá.


* Fabiana Ferreira é licenciada em Língua Portuguesa e Espanhola pela UFPE, especialista em Gramática Normativa e professora de Português do Nuce. fabiana_nuce@yahoo.com.br

Um comentário:

Administrador disse...

Perdão amigo, pode ignorar a mensagem anterior e manter o link do blogspot abraz

pode deixar http://tudoparaestudo.blogspot.com mesmo